Valorizando o papel da imprensa no fortalecimento da Educação Superior Brasileira

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#SérieDepoimentos | Jornalismo que resulta em ganhos sociais

31/08/2017 | Por: ABMES | 2293

“Soube do Prêmio pela internet. Resolvi participar porque achei interessante a iniciativa da ABMES de criar um prêmio somente para reportagens sobre educação. Há poucas premiações específicas para esse tema no Brasil.

No início de 2016 eu soube que alguns grupos de estudantes cotistas de universidades públicas estavam denunciando colegas suspeitos de fraudar as cotas. Primeiro esses alunos faziam uma lista com nomes de pessoas declaradas cotistas que não apresentavam características condizentes com a definição. Depois reuniam documentos para comprovar a situação denunciada. Por fim, os grupos entregavam dossiês com todas essas informações para as autoridades responsáveis como reitores e procuradores da República.

Eu entrei em contato com esses grupos e, a partir das informações apuradas com os estudantes, identifiquei os casos mais relevantes de fraudes na época e outras reivindicações sobre o tema. Ao mesmo tempo, abri outra linha de apuração com as universidades, Ministérios Públicos e Procuradorias da República para entender o lado jurídico da questão. Depois de selecionados os casos abordados na reportagem, entrei em contato com todos os envolvidos.

Eu já produzi outras matérias sobre educação para o programa Fantástico, da TV Globo. Mas, no conjunto do meu trabalho, são minoria. Eu costumo fazer reportagens sobre ciência, saúde e direitos humanos. No entanto, a minha intenção é trabalhar mais com pautas sobre educação.

Após a exibição da reportagem, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) abriu uma investigação e expulsou sete alunos de Medicina, Direito e Odontologia por fraudes nas cotas quilombolas.

A matéria também repercutiu no Ministério Público da Bahia. A presidente de uma associação quilombola, que foi entrevistada na reportagem, foi denunciada à Justiça por falsidade ideológica. A promotoria alega que ela emitiu falsas declarações para que estudantes pudessem ingressar em universidades públicas como cotistas.

Eu acredito que a imprensa pode incentivar debates. Uma reportagem bem feita pode gerar uma discussão sobre o assunto abordado. Diferentes argumentos, quando expostos, podem incentivar novas reflexões e motivar o surgimento de novas soluções.

Há poucos prêmios na imprensa brasileira. Também há poucos prêmios específicos para temas tão relevantes como educação, ciência e saúde. Novas premiações deveriam ser incentivadas porque ajudam a dar visibilidade a trabalhos tão importantes para a sociedade brasileira.”

Luciana Osório é jornalista da TV Globo, vencedora na categoria TV Nacional com a reportagem “Falsos cotistas”.